Liz, na janela
Liza de Alcântara Souza é uma modesta e sonhadora mulher de 44 anos, de classe média, solteira e sem filhos que ainda espera seu príncipe encantado aparecer como uma adolescente dos contos juvenis.
Residente ao Catete, num edifício de frente para um cruzamento movimentado, vive do alto da janela do 3⁰ andar a acompanhar todo o movimento das ruas próximas. Seu expediente se inicia pela manhã bem cedinho, tão logo os primeiros raios de sol despontam entre os prédios.
Liz, como é chamada pelos mais próximos, toma seu café sob a janela com o olhar fixado na correria e no vai e vem de pessoas de uma cidade grande. Curiosa que é, também costuma gravar os horários das pessoas, suas rotinas, os horários que os ônibus passam, os ambulantes, o abrir e fechar dos comércios, os casais que entram e saem dos prédios vizinhos ao seu, os modelos de carros, toda a correria, encontros e reencontros que acontecem diariamente nas adjacências. Vez e outra quando flagra brigas, discussões e assaltos, registra tudo como se trabalhasse para o serviço secreto.
Liz, é uma falante de conversas vazias, que diz repudiar fofoca e vagabundagem. Sua ocupação religiosa é a política. Possui medos irreais, amizades frustradas, é caprichosa, sorridente, esforçada, que se comporta como se o mundo lhe devesse algo. Com uma mente que viaja sem sair do lugar, vive criando relacionamentos, roteiros, cenários, situações e personagens na cabeça se baseando no que vê pela janela. Nada, absolutamente nada escapa a sua mente fértil.
Liz, é uma mulher de 1,67, 60 kg, olhos e cabelos castanhos, que mantém-se sempre alinhada e perfumada à espera dele, o amor. Porém, entra ano e sai ano e Liz continua sem progredir um milímetro que seja nessa área. Seu motivo? Liz é uma saudável adulta com mente jovem, que ainda mora com os pais, que nunca namorou, trabalhou fora ou mesmo gosta de sair de casa para se distrair das mazelas da vida. O que Liz vem perdendo durante todos esses anos ao olhar pela janela acompanhando o progresso dos demais? Tempo!
FIM!
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