12 de Junho

Capa de livro grátis. Buquê de tulipas coloridas

12 de Junho

Conto – 12 de Junho

Capítulo. 1

 _ …Ele é muito bonito! __ Comenta Cristina Mendes, funcionária recém-contratada da boate Seven Klaus a respeito de William, um jovem namorador de 19 anos que comemorava mais um período de aprovação na faculdade de administração na companhia de muitos de seus colegas de sala.

_ É, ele só não é para você! __ Intromete-se Cláudia com sarcasmo habitual dando de ombros ao passar ao seu lado. Cristina falava sobre William com uma pessoa do outro lado do balcão em distração, reagindo desacreditada ao que havia acabado de ouvir em meio a todo barulho e agitação na casa.

Era madrugada de um final de semana frio em São Paulo. A cidade que nunca dorme convidava a todos para o seu encontro.

_ Por que não? __ Reage Cristina com a inocência estampada na face.

_ Olha pra você?! Você não se enxerga não? __ Pergunta Cláudia, sem a mínima intenção em ofendê-la. O que Cristina nem considerava, rebatendo a causa de sua pergunta com desdém e sem qualquer pretensão de desistir do que calculava em mente. _ À pergunta certa é o que você não tem. William, é um dos homens mais cobiçados dessa cidade. Desde que pisou aqui pela primeira vez eu percebi que ele não é homem de parar com mulher nenhuma. É um namorador! Toda vez que vem aqui é com uma mulher diferente. Você é nova aqui, eu não. Vai por mim. Fique longe dele ou se machucará. Você é peixe pequeno, será devorada! William, gosta é de peixe graúdo! __ Cristina, nada respondia, ficava distante apenas observando as várias mulheres que o cercava e a sua atitude com todas elas. O que Cláudia havia acabado de lhe dizer não era dado qualquer importância. Era teimosa e com ambições desmedidas. Queria crescer na vida e crescer rápido, não importando o que precisasse fazer para isso.

A pessoa com quem Cristina conversava continuava ali sem se envolver, acompanhando tudo apenas com um olhar curioso. Já Cláudia se retirava aos seus afazeres com semblante de poucos amigos ao ver Leonardo Klaus, feliz proprietário da boate Seven Klaus, passando apressado em frente ao balcão seguindo em direção ao seu escritório bastante aborrecido. Algo havia ocorrido entre ele e os seus irmãos mais cedo.

Já William bebia, e bebia sem pressa. Até drogas, ele e o seu grupo de amigos haviam consumido poucas horas atrás.  Estavam todos empolgados e falando em alto tom de voz se gabando entre eles do que eram e do que possuíam. Comentavam sem respeito algum sobre dinheiro, mulheres e farras.

Tanto, que alguns deles desejavam, já muito alterados, saírem dali para outro lugar e William não, pois gostava do ambiente receptivo e amigável. Tal lugar fora descoberto por ele a pouco tempo, tornando-o assim um cliente assíduo juntamente com os demais desde então.

Cláudia o conhecia bem. Eram próximos. E não se enganava em relação ao seu caráter ainda em formação. Era uma mulher experiente e independente desde muito jovem. Ali dentro presenciava de tudo e não costumava se enganar.

Mulher negra, de traços fortes e cabelos trançados abaixo dos ombros, tem 1,90 de altura, olhos e cabelos pretos, e chamava muito a atenção ao passo que também afastava por sua postura firme e por seu semblante pouco amigável. Apenas Leonardo Klaus, apelidado por L.K., conseguia quebrar sua dureza e fazê-la mostrar docilidade. Característica que ela nunca enxergou em si mesma. Ambos eram amigos e confidentes. Sendo ele, o principal responsável por sua nova vida na cidade.

A noite estava fria e a cidade que não dormia mantinha-se agitada com o vai e vem dos carros e das motos em alta velocidade pelas avenidas pouco movimentadas devido a hora. Não muito longe dali, estava Carla, namorada de William, sobre a cama sem sono algum. Sua consciência não a deixava dormir sossegada. Algo que fizera anos atrás ainda lhe doía, provocando um remorso difícil de lidar. Dia após dia sua vida seguia assim, olhando para o nada pensativa quanto às medidas que tomaria. Em mente, pôr toda a culpa de seu ato em William, que nada sabia do que havia lhe ocorrido na adolescência após o breve rompimento que tiveram.

Em Curitiba, Roxana Thyfane, de apenas 5 anos de idade, estava internada. Seu estado já era instável. Seus pais Antônio e Lúcia passavam a noite em claro no hospital, apreensivos ao seu lado.  Loira de longos cabelos lisos e finos e olhos da cor da polpa do limão taiti, Thyfane possuía uma pele tão branca que o sol mesmo sem excesso já a deixava com a pele avermelhada. Saíra loira como sua mãe, Lúcia, que possuía olhos verdes claros expressivos e cabelos muito bem cortados até abaixo dos ombros. Já seu pai era moreno, alto, cabelos e olhos castanhos claros. Tinha voz grave e semblante de poucos amigos. Era o caçula de 5 irmãos. Sendo Lúcia, sua esposa, filha única.

No hospital, Lúcia não saía de perto da filha um instante, já Antônio aproveitava a calmaria do momento para tomar um café na cantina. Precisava se distrair um pouco da culpa que o corroía. Culpa essa, provocada por um instante de distração que tivera que por pouco não havia causado a morte de sua única filha.

Estiveram os três. Pai, mãe e filha num clube próximo de casa. O clima estava ameno. Nada parecido com o que fizera dias atrás. Por conta disso, saíram os três para se divertirem no clube que eram associados desde que se casaram. O clube estava cheio. Crianças corriam à beira das piscinas despreocupadas, inclusive seus pais num vai e vem frenético. Jovens brincavam, casais namoravam. Sócios aproveitavam o lazer de um domingo em família antes da chegada do extenso inverno previsto pela meteorologia. Fazia tempo que um bom sol não dava as caras no estado.

Thyfane, como era chamada pelas pessoas mais próximas, estava sem boia e ainda ia ser colocada na água pelo pai. Por isso fora advertida a não se aproximar da beira da piscina. Destemida e curiosa ela o desobedeceu e correu para longe num momento de distração em que seu pai guardava o protetor solar na bolsa da mulher.

Despreocupada, Lúcia se dirigia para comprar sorvete quando ouviu gritos a uma certa distância de onde estava. Um pouco assustada, olhou para trás, ficando sem reação ao ver o esposo correr a certa distância e pular na água com roupa e tudo.

Alguns também corriam para tentar ajudar, ao passo que muitos curiosos se formavam em volta da piscina rapidamente isolando o local. Assim que recobrou os sentidos, Lúcia se apressou até a movimentação de pessoas tendo que usar de força para atravessar o cordão que havia sido formado aos berros temendo o pior pois seu íntimo dizia se tratar de sua filha.

Sem demora, viu Antônio sair da água trazendo a filha desacordada nos braços e se desesperou levando as mãos à cabeça sem conseguir pronunciar uma palavra que fosse. Rapidamente um guarda-piscina se aproximou e o ajudou realizando os primeiros socorros no local, o que contribuiu para o salvamento de sua filha.

Em seguida, dali saíram os três para o hospital mais próximo. Frágil, Thyfane tremia, seus lábios estavam roxos e sem cessar chamava pela mãe entre choro, tosse e falta de ar enquanto era cuidada durante todo o percurso. Ao seu lado, Antônio ficava sem ter o que fazer pois via nos olhos da esposa que ela o culpava pelo ocorrido e no seu íntimo sentia por isso.

No quarto do hospital, sentada à cama, Lúcia olhava para a filha acarinhando-a, enquanto tentava focar no que era importante sem tentar sanar a raiva que sentia do marido mesmo depois de horas. Já Antônio, culpava-se sem ter mais como se desculpar ou se punir internamente.

E assim foram por dias. Lúcia não conseguia perdoá-lo. O clima entre ambos era de distância. Se falavam muito pouco. Já em casa, conversavam a respeito do tratamento que a filha estava recebendo pelo choque que sofreu.

Thyfane era cuidada, beijada e mimada por todos. Principalmente pelos avós, pais de Lúcia, com quem viviam. Como a relação de seus pais não seguia bem, ambos pensavam em divórcio. A monotonia da casa só não era das piores porque Thyfane não deixava de expressar sua meiguice por toda parte apesar do seu estado emocional estar abalado.

Algo lhe ocorreu no acidente, e seus pais estavam cientes disso. Agora, a jovem menina frequentava o psicólogo. Seu medo de sair de casa, ficar longe dos pais, tomar banho e se afogar no chuveiro era real e preocupante. Diariamente era um tormento lhe dar banho explicando que não se afogaria. O que não evitava seus gritos de ecoarem para todos os cômodos da grande casa. Sua mãe não desgrudava de sua presença por temer seu novo estado de saúde.

Em São Paulo, William seguia firme na rotina de estudos, treinos, estágio, diversão, bebedeiras e namoros relâmpagos. Vez ou outra durante a semana saía com seus colegas de faculdade para orgias com mulheres contratadas em locais devidamente marcados.

Carla já estava farta de sua conduta promíscua e nada responsável. Para ele tudo era por diversão. Não levava nada a sério. Por essa razão se separaram mais uma vez. Francisco, seu avô paterno, acabava intervindo como sempre para uni-los novamente como um casal. E isso acontecia sempre que se afastavam. Assim, Carla o tinha como seu aliado sem fazer esforço algum, e isso à ajudava aos poucos a conseguir o que mais queria, casar-se com um Assunção e herdar unicamente todo o seu império e prestígio junto à nata da sociedade paulistana.

Com frequência, William dava uma preocupação diferente a todos na família.

Nora, sua avó paterna e ex-esposa de Francisco, acreditava que a má conduta do neto fosse por revolta. Revolta por ser órfão de pai e mãe, por ser filho único e por despertar o sentimento de pena nos mais próximos e conhecidos, já que Naldo, seu tio por parte de pai lhe jogava isso na cara desde a juventude sempre que surgia a oportunidade de estarem no mesmo ambiente, aborrecendo-o.

As discussões eram frequentes. Francisco e Nora podiam fazer muito pouco com relação a isso, já que o comportamento de Naldo sempre foi por ciúme e inveja. Sentimentos que ele carregava anteriormente pelo irmão e que agora carrega pelo sobrinho, filho de seu falecido irmão.

Operado do coração ainda na infância, William agia como se não tivesse que tomar precauções. Às vezes abusava do álcool, das noites mal dormidas, da falta de responsabilidade com os remédios que tinha que tomar.

Era uma dor de cabeça. Estava sempre internado para cuidados. Nora sentia-se sem chão nessas horas. Seu filho Alan, era quem sempre tomava a atitude de repreendê-lo nesses momentos.

Já Francisco tinha em mente que somente Carla colocaria um pouco de juízo em sua cabeça. Por conta disso, Carla se valia da simpatia que Francisco lhe tinha para estar ao seu lado sempre que ele precisasse.

_ (…)

_ Todos se preocupam com você… Você tem tudo! __ Diz Alan para o descrédito do sobrinho que pouco o encarava. Ambos estavam realizando novos exames médicos. Mais uma vez, William havia apresentado alterações nos exames anteriores, tendo sido necessário repeti-los uma segunda vez.

_ Tudo o quê? __ Pergunta ele com um mau humor típico de jovem rebelde.

_ Como o quê? Você tem uma família, amigos, casa, comida, fortuna… O que mais você quer? __ Aborrecia-se, sem levar mais nada em conta.

_ Isso não é ter tudo, tio. Ter um pai e uma mãe seria muito mais importante que tudo isso aí. __ Abaixava a cabeça.

_ É… não se pode ter tudo. Ninguém tem…

_ Cresci ouvindo isso de dona Nora. __ Completa William com discreto sorriso.

_ Eu sei. Alessandro faz falta… __ Sentia Alan comovido. _ …Muita falta. E não é só para você, é para todos nós. Imagina para meus pais? __ Alan e William se encontravam sentados no consultório do cardiologista da família. Roberto Antunes Filho, era o seu nome. Roberto havia se retirado por um instante para atender um paciente que havia dado entrada na emergência e demorava a retornar. Aproveitando o momento a sós, tio e sobrinho conversavam livremente. William não se mostrava bem a dias, por essa razão, Alan o acompanhava já que Nora estava impossibilitada de fazê-lo, pois sua pressão estava um pouco fora do normal. _ Tem sido difícil lidar com tudo isso… Tudo ainda é muito recente apesar do tempo da sua partida. __ Ofegava. _ Nem mesmo o casamento dos meus pais resistiu a tudo o que houve. Alessandro faz falta, mas quer saber, podia ter sido pior! Fomos agraciados! Você está aqui, vivo e isso deve ser comemorado. Não podemos viver em função de acontecimentos do passado. É atraso! É preciso evoluir, crescer, amadurecer… Você precisa aprender a ser homem! Crescer! Há inúmeras responsabilidades que te esperam lá fora. Pare de agir como um jovenzinho mimado, ressentido, vitimista! Isso é cansativo, estressante! __ William fazia pouco caso. _ Olhe para mim quando eu estiver falando com você, William! __ Reage rígido.

_ Tio, eu não quero ouvir sermão. Já basta em casa… chega!

_ Chega? Vejo que nem mesmo os sermões em casa têm sido suficientes para você. É sério, William, eu já estou farto! Farto de toda essa situação. Eu tenho filhos. Filhos que precisam e dependem de mim. Eu não posso e nem vou mais viver correndo com você. Isso acaba hoje! Acabou, entendeu? Independente do resultado dos seus exames, chega. A Partir de agora se você não mudar o seu comportamento eu terei que interná-lo. Minha mãe não sabe que você ainda se droga…

_ …Eu não me drogo, só uso de vez em quando…

_ …Dá no mesmo, não? Você está se matando, não percebe? É isso mesmo o que você quer? Por que se for, eu sugiro ir para longe, se afastar… é. Nem eu sei mais o que estou dizendo… __ Levantava-se sem recuar ou levantar a voz. _ Ninguém precisa ver isso. Mas uma coisa eu tenho certeza absoluta, William. Meu irmão não te quis para isso. Sua mãe não te quis para isso. Eles não puderam escolher o próprio destino deles, mas você pode escolher o seu. Então por que escolher morte?! Por que escolher morte se você pode ter uma vida bonita, próspera, feliz! Olha para você! __ Entusiasmava-se. _ Você é tão bonito, jovem… Foi feito com tanto amor pelos seus pais. Tão querido, desejado… Seu pai tinha tantos planos para você, meu filho. Ah, William, se você soubesse. Não mate isso. Não envergonhe a memória dos seus pais desse jeito… __ Repetia-se Alan, ao passo que sem dizer uma palavra, lágrimas contidas escorriam dos olhos de William, que absorvia palavra por palavra do que ouvia. O ambiente era branco e cheirava a hospital. William não gostava de entrar nesses ambientes, pois o recordava sensações ruins. Como a morte de seus pais. Alan não desistia do sobrinho, e continuava apesar de seu silêncio. _ …Não me decepcione! Eu te amo, garoto! Você sabe disso. Eu o tenho como um filho. Somos mais que um sobrenome… mais que sangue! Dói em todos nós ver o que você está fazendo consigo mesmo… __ William, calado apenas evitava as lágrimas caírem, enquanto Alan insistia, sem poupar de listar as medidas que tomaria caso fosse necessário. Envergonhado, William se dirigia ao lavabo sem dizer uma palavra, deixando Alan falando sozinho no pequeno consultório. Lá, pensava de cabeça baixa nas coisas que seu tio lhe dissera sem entusiasmo em mudar. Era festeiro. Seu lema era que pessoas livres eram muito mais felizes que as demais. Que o álcool trazia felicidade e que pessoas bacanas se drogavam. Que o mundo era o seu porto seguro. E enquanto estava envolto em pensamentos sobre o que faria, Alan esperava-o retornar para seguir com o mesmo assunto, quando, apressadamente retornava Roberto Antunes com o resultado dos exames em mãos, a se desculpar pela sua demora, ao tempo que notava a ausência de William enquanto puxava a cadeira para sentar-se. Imediatamente, William surgia e sem delongas sentava-se ao lado do tio, se pondo a ouvir atentamente o seu diagnóstico, que não era nada animador. Prescrito seus cuidados, ambos saíam dali em meio a um silêncio ensurdecedor que os incomodava seguindo ao estacionamento afastados um do outro. Por um lado, William queria isolar-se, por outro, Alan não queria voltar a tocar no mesmo assunto e ser causa de mal-estar entre eles no caminho de volta para casa.

Chegando à mansão, William permanecia calado e Alan, falante. Nora os havia esperado apreensiva na sala de estar sob forte controle emocional para não preocupar os demais. Tranquilizando-a, pressentindo seu estado, Alan lhe contava do resultado dos exames sem mencionar o alerta dado pelo médico com relação ao abuso de álcool e drogas que William insistia em consumir.

Já em seu quarto, William tomava um banho apressadamente e deitava-se. Sem demora, Nora batia em sua porta preocupada com sua falta de agitação.

_ Quer comer alguma coisa? Eu peço para Ânia preparar.

_ Não estou com fome, vó.

_ O que houve?

_ Nada. __ Mentia.

_ Tem certeza?

_ Tenho, vó. __ Mas Nora não se convencia disso e encarava-o pensativa. Apesar de sua intimidação, William mentia, se mantendo firme na promessa que fizera ao tio assim que chegassem em casa. O de não importunar mais seus avós com seu estado de saúde. _ O que foi? __ Pergunta ele desconcertado com o olhar.

_ Você mente como seu pai. __ A essas palavras William reagia sério. _ Seu pai era péssimo em me contar mentiras. Sempre foi. Alan, me convencia. Alessandro, não. Um encobria os erros do outro. Eram carne e unha. Enquanto Alan me distraía, Alessandro agia. Eram assim quando queriam sair, namorar, faltar ao colégio, ao estágio… bons tempos que não voltam nunca mais. __ Respirava fundo bastante comovida, sentando-se sobre a cama do neto. _ A maior diferença dele para você é que ele sempre soube para onde queria ir, para qual direção seguir. Já você não, você vive perdido.

_ Eu sei sim. Eu vou ser presidente da nossa empresa, vó.

_ Você vai tirar seu avô da presidência? __ Sorria contida.

_ Ele e qualquer outro. Meu tio disse que meu pai se dedicou para torná-la grande, pois bem, eu irei além. Ela é minha! E minha por direito, vó.

_ Então terá que estudar muito meu filho. Não foi nada fácil para seu pai torná-la grande.

_ Eu sei. Serei tão bom quanto ele foi, vó. Meu avô disse que eu posso tudo. Basta eu querer. __ Entusiasma-se, com olhar determinado.

_ Sei que você o ama e o escuta, agora, cuidado! Seu avô não é o dono da verdade. Ninguém é. Não permita que ele molde você a maneira dele. Você não deve ser o que ele deseja que você seja. Você deve ser o que deseja ser.

_ Por que diz isso?

_ Não pense que foi fácil para seu pai chegar aonde chegou. Conquistar o que conquistou… __ Falava Nora, sem a intenção de mencionar o quão difícil fora a relação entre Francisco e o filho no passado. E o quanto que a incomodava ver William ser manipulado por ele, sempre omitindo do neto, sua real relação com o filho Alessandro. E ainda que sentisse nela uma vontade quase que descontrolada de contar toda a verdade, seu interior aconselhava-a a se manter em silêncio para não destruir a relação entre avô e neto. Nora sabia que era algo que o neto deveria descobrir sozinho e, sem rodeios, procurava mudar de assunto de forma a não causar curiosidade em William pela conversa que estavam a ter. _ …Procure se espelhar mais no exemplo do seu tio Alan, entendeu?

_ Sim, eu sei.

_ Você não precisa se casar com Carla como ele quer.

_ Não vou me casar com Carla, vó. Não vou me casar com ninguém! __ Diz convicto para a preocupação de sua avó.

_ Como assim, você não deseja formar uma família? Ter filhos…

_ …Não. __ Responde seco. _ Sou muito jovem para pensar nisso agora.

_ Sim, sim… __ Sorria, aliviando-se. _ …Mas no futuro quem sabe?

_ Pode ser.

_ Ânia me contou que Francisco lhe deu permissão para trazer Carla para dormir aqui com você.

_ Sim.

_ Previna-se.

_ A senhora não gosta mesmo dela, não é?

_ Não é que eu não goste. Eu só não simpatizo com ela. Só isso. __ Disfarçava.

_ Poxa! Só isso? Só a senhora mesmo. Fica tranquila, mulher alguma dormirá nesse quarto.

_ Só a que merecer?

_ Por que não? Mas acho que essa ainda não nasceu. __ Ria. _ E se já nasceu, vó, irei saber assim que pôr os olhos nela.

_ Jovens e suas ilusões. Descanse criança. Vou ver se Alan já ligou para o pai informando do seu estado de saúde. __ Levantava-se.

_ Vó. __ Chama William.

_ Oi. __ Responde Nora, olhando para trás.

_ Isso é segredo! __ Diz ele, referindo-se a conversa que acabara de ter.

_ Eu sei. __ Responde ela sorrindo. William também sorria em discrição, vindo a deitar-se e dormir sem demora.

Em Osasco, Márcia, uma jovem determinada em ser mãe solteira, arrumava suas coisas com a ajuda dos pais para partir para o Sul do país. Márcia havia ficado algumas vezes com William. Ambos se conheceram através de sua amiga Carla, na faculdade e tiveram um curto relacionamento sem o conhecimento de ninguém. Agora grávida, ela se preparava para viver sua tão desejada produção independente muito longe dali com o apoio e a ajuda financeira dos pais, que a ajudariam a manter seu segredo muito bem guardado. Nem mesmo Carla sabia de sua viagem. Tampouco, os mais próximos da sua família.

Na mansão, todos agora faziam vigilância contínua em cima de William. Como morava com o neto e pouco podia estar presente diariamente, Francisco convidava Fábio para lhe fazer companhia na mansão com o aval dos seus pais. Ambos se davam muito bem e William gostava de estar em sua companhia. Eram como irmãos. Até mesmo Nora passava um tempo na mansão para se dedicar aos cuidados do neto.

Separados a alguns anos e divorciados a apenas 5, Nora e Francisco mal se falavam. Havia ficado algo inexplicável na separação dos dois que os filhos não entendiam. Alan era o que se mantinha mais atento a tudo, enquanto Naldo, só olhava para o próprio umbigo. Já o primogênito, Osmar, era o mais tranquilo da família. Não se aborrecia, não se exaltava. Vivia sereno e ocupado. Visitava pouco os pais. Nem mesmo nunca trouxe problemas para a família. Era médico, profissão contrária a todos os demais.

Distante, era o que menos se parecia com os pais. Com filhos já crescidos e morando fora do país, Osmar havia vendido sua parte das ações ainda jovem com preço de mercado para Alessandro, sendo tudo hoje administrado por seu pai para William tomar posse assim que estiver formado na área administrativa como o pai.

O tempo passava.

Devido aos cuidados com a saúde, William dava um tempo na correria. Fábio, agora era sua companhia fiel e inseparável. Os dois dividiam sonhos, projetos, problemas. Compartilhavam viagens, saídas e passeios. William, solteiro, já Fábio, namorando uma jovem estudante de medicina de nome Fernanda, que havia acabado de conhecer. Carla, estava afastada. Ela e William haviam novamente rompido. Porém, dessa vez os dois não se viam a semanas, preocupando Francisco, que havia estabelecido em mente que ambos se casariam em pouco tempo.

Carla, estava ocupada com outras coisas. No presente momento, encontrar-se com um estranho homem num restaurante simples longe da cidade e resolver de uma vez por todas o que lhe tirava o sono quase diariamente. Sua conversa aconteceria em segredo. Seus pais de nada desconfiavam. Finalmente ela havia encontrado alguém para ajudá-la a resolver seu problema mais urgente. Acordo selado, valor definido, sua rotina voltava aos poucos à normalidade. E isso não somente para Carla, como para muitos também.

Em Curitiba, Antônio havia recebido uma proposta irrecusável de uma promoção com transferência imediata para São Paulo. Como seu casamento continuava em risco, ele escolhia partir o quanto antes, depois de muito pensar e discutir a respeito com a esposa que, após ter certeza de que seu divórcio sairia caso decidisse não acompanhá-lo, abandonava sua ocupação, arrumava o que tinham, aprontava a filha e seguia o marido com o conselho e apoio dos pais. Tudo seria novo. Havia de sua parte uma apreensão e medo do desconhecido que Antônio ignorava em si mesmo.

Chegando à cidade, se instalavam em um pequeno apartamento já mobiliado, arranjado pela própria empresa. Imediatamente, Antônio deu entrada num bom plano de saúde para a família, certo que essa era sua prioridade. Já Lúcia, ficava encarregada de procurar uma boa escola para matricular a filha no próximo ano.

Bem instalados, e em perfeita harmonia, decidiram retornar ao plano de uma nova gravidez, que fora interrompida pelo ocorrido a filha.

Com Antônio ganhando razoavelmente bem e tendo uma boa quantia em conta, ele e sua esposa queriam um apartamento mais amplo no centro da capital paulista que ficasse mais próximo ao seu escritório de contabilidade, como também servisse para instalar mais confortavelmente um novo membro da família.

Ambos então ficavam a cargo de visitar imóveis e escolherem juntos. Um condomínio mansão na Alameda Sarutaiá chamava mais a atenção de Lúcia que todos os outros 11 imóveis que haviam visitado num curto período de tempo com a ajuda de um profissional da área. Achando um exagero tal luxo da esposa, Antônio esperava encontrar outro mais condizente com suas posses, cauteloso que era no início.

Sua intenção não era a longo prazo. Não gostava de acumular dívidas. No entanto, sua esposa pensava o oposto. Para Lúcia, só tinha coisas, bens, quem gastava, ainda que isso comprometesse um pouco da renda da família, não fazendo sentido trabalhar somente para guardar.

E apesar de nunca comprar desnecessariamente ou se endividar por nada, seu gosto pessoal sempre foi voltado para o elegante e o confortável, características muito apreciadas pelo marido, por isso começou a trabalhar cedo. Para ter suas coisinhas, como ela sempre gostou de chamar. Um controle ensinado por seus pais desde muito menina, e que ela aos poucos passava para a filha também.

Com os dias correndo e com a possibilidade de não ter o que queria, o tal imóvel não se desvalorizava, pelo contrário, poderia se valorizar ainda mais pela localização, e Lúcia continuava se recusando a ver outros.

Capa de livro grátis. Buquê de tulipas coloridas

Tanto que decidiu pegar o dinheiro que havia ganho vendendo bolos e salgados em Curitiba e investir numa pequena floricultura em Santana, na região norte de São Paulo que estava à venda, em parceria com uma vizinha ligada ao ramo.

Inclusive, foi ela quem lhe apresentou a proposta e o lugar. Pensava grande. Queria o melhor. Antônio a apoiava nessa nova empreitada.

E a segunda gravidez ficava para mais tarde, e mais tarde. Thyfane a acompanhava ao trabalho diariamente. Estava contente. Corria pra lá e pra cá no pouco espaço sem largar um botão de tulipas. Todo dia era assim. Somente as cores mudavam. Um dia era botão vermelho, no outro era botão roxo, no seguinte, amarelo.

Assim ela decidia que tulipas eram suas flores favoritas, encantando sua mãe. Não demorou muito e o local se tornou ainda mais conhecido graças ao bom atendimento e empatia das freguesas. Flores e plantas novas chegavam de acordo com novas encomendas.

Lúcia e sua sócia Cristina já forneciam flores e arranjos para igrejas, festas e eventos locais após uma extensa e cansativa divulgação no bairro e adjacências.

Tudo estava perfeito. Thyfane estava em casa. Drasticamente, ficava evidente o quanto que São Paulo estava lhe fazendo bem, e Antônio comemorava. Tanto que chegava em casa pegando a esposa de surpresa com uma notícia avassaladora.

Era início do mês de dezembro e Antônio havia finalmente decidido comprar o apartamento dos sonhos da mulher. Lúcia, recebia a notícia com empolgação e comemorava num misto de crença e descrença. A essa altura, Cristina já morava com o marido e dois filhos num belo apartamento financiado, vizinho à floricultura que tinham, fruto do duro trabalho que ambas tinham diariamente.

Já com as chaves do apartamento em mãos depois de legalizarem tudo, Lúcia agora entrava no imóvel como feliz proprietária do local apreciando e imaginando como tudo ficaria. Cores, móveis, eletrodomésticos, cortinas… Faltava apenas contratar uma decoradora. Estava em êxtase de tão empolgada com tudo.

Sem demora, uma vizinha de nome Mônica se apresentava após bater à porta em sinal de boas-vindas aos novos inquilinos. Fora simpatia de imediato. Tanto que seu filho Edgar e Thyfane se aproximavam para brincar.

Durante a conversa que estavam a ter, Mônica passava o contato de sua decoradora para orçamento. Lúcia, então, marcava um horário para se encontrarem e se assustava com o valor cobrado sem querer passar recibo de insatisfação e até mesmo definir por conta própria o valor do trabalho de outro.

Por conta disso, assinava o contrato da aquisição do serviço sem consultar primeiramente o marido. Lúcia, sabia que teria que trabalhar dobrado para arcar com tal gasto já que Antônio tinha salário fixo na empresa. Fora o dinheiro que estava guardado haver sido gasto em parte, para dar de entrada no imóvel de seus sonhos.

Assim, os dois teriam que se desdobrar ainda mais. Inclusive, Antônio, passaria a ajudar nos finais de semana na floricultura para garantir que a loja cumpriria com todas as encomendas que haviam se comprometido nos contratos antes assinados.

Aniversários, formaturas, eventos e etc., No fim do ano surgiu muito trabalho e tudo corria bem, apesar do dinheiro que havia sido investido por Lúcia estar longe de ser recuperado em sua totalidade. E isto estava muito bem entendido em sua mentalidade que seria assim.

Economizando aqui e ali, entravam no novo imóvel apenas com a cozinha mobiliada faltando menos de dois dias para o Natal.

Já instalados, as coisas caminhariam de acordo com a condição financeira de ambos. Até os quartos ficarem prontos os três dormiam em colchonetes no chão do quarto da área de serviço. Não haviam problemas e nem reclamações.

Thyfane nem sentia falta de sua cama, queria apenas dormir abraçada à mãe tendo o conforto e a segurança do seu pai por perto.

Passado o Natal e o Ano Novo no salão do prédio juntamente com a maioria dos condôminos, veio o carnaval. Em seguida, o ano letivo começava de fato.

Em seu primeiro dia de aula na nova escola, Thyfane entrava na sala chamando a atenção de todos. Sua beleza era rara no ambiente. Uma menininha sentada no fundo da sala de nome Vânia e mesma idade a encarava brava.

Retinta, de cabelos crespos pretos e olhos expressivos negros como pérolas negras, Vânia era falante e popular na escola inteira por sua espontaneidade e naturalidade nas brincadeiras que fazia. Crescia sem noção de filtro, características muito parecidas com a da avó paterna, com quem passava a maior parte das horas devido à profissão puxada da mãe.

Dias se passavam e ambas não se falavam. Vânia sentia ciúmes de toda a atenção que Thyfane vinha recebendo dos novos colegas. Atenção que anteriormente era dada somente a ela.

Com o tempo, Vânia foi se aproximando lentamente após Thyfane lhe oferecer sua merenda no recreio. E assim passaram-se a ser todos os dias. Um dia era bolo, no outro, torta. Um dia de chocolate, no outro, amendoim. Às vezes, de milho, às vezes de maracujá, limão… ora, pudim, ora, pavês, mousses, salgados.

Aos poucos, ambas se tornavam inseparáveis. Como consequência, suas mães também. Todo dia ao buscar a filha no colégio, Vanda, mãe de Vânia, trazia Thyfane também e a deixava na floricultura com a mãe. Quase sempre todas almoçavam juntas nos fundos da loja. Inclusive, Cristina.

Com o passar dos anos, o trio Edgar, Vânia e Thyfane estudavam e cresciam juntos. Tempo depois chegaram novos amigos. Passeios, saídas, diversão… faziam tudo juntos. E, assim, cresciam…

FIM!!!

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *